sábado, 6 de maio de 2023

O MAL SILENCIOSO - por Paulo Sérgio Ribeiro 

     
   No caso da depressão, não é o mesmo que estar num estado depressivo. Vejo pessoas que já passaram por fases depressivas ditando regra sobre como alguém deve aprender a lidar com a depressão. Todo mundo se acha entendido no assunto. Agora existe até coaching para depressão. Acho que o estigma nunca acabará. As pessoas acham que depressão é coisa de gente fraca, como se fosse uma escolha. Quem não tem, não sabe exatamente do que se trata e fica sempre citando a tal fase da vida em que se sentiu deprimido e foi superada. Aí encara a depressão crônica como fraqueza, frescura, falta de Deus, falta do que fazer. É preciso compreender que depressão não é falta de fé ou de força. Que não é preciso estar prostrado ou descuidado da higiene para merecer apoio - o mal costuma estar silencioso, encoberto. Que além da morte física, há a psíquica. Que nada substitui a compaixão, essa intangível capacidade de sentir o que outro sente.
A depressão deve ser acolhida, compreendida e cuidada. 
Descobrir-se é o único caminho para proteger-se.
Existe uma interpretação a respeito de depressão, de que ela não é doença. Ela tem um motivo para surgir, tem uma utilidade biológica. É como a febre, ou como uma inflamação. Uma reação do organismo para nos proteger de um mal maior. Basicamente a depressão nos colocaria em stand by. Minimamente operacionais. Nivela todas as nossas emoções lá embaixo. Ficamos anestesiados. Sem alegria ou felicidade, mas também sem alguma dor muito intensa, como a perda de um familiar amado. Melhor deitado na cama, 3 dias seguidos, ou 3 meses sem conseguir fazer quase nada, do que o desespero, a dor psíquica profunda, dilacerante. Mas a natureza é muito imperfeita, podemos morrer de febre, ou por depressão. Paradoxalmente, a solução da natureza, a depressão, o stand by, a prostração, pode ser pior do que a dor psíquica - pessoas com dores agudas e crônicas, também entram em depressão. E existe também a depressão não motivada por um evento, mas por uma disfunção química no cérebro. 
Na verdade, a depressão é uma doença à qual ninguém é invulnerável. Por traços genéticos ou pelas circunstâncias, somos todos suscetíveis ao seu assédio. Ela é a principal causa do suicídio, mas quem tem depressão não quer morrer: quer se livrar da dor. E pode chegar o momento em que dor e vida se confundam de tal forma que a vida se torne o preço a pagar para que cesse o sofrimento. É a dor que dói muito, dói tanto que dá vontade de não estar vivo.
A substituição das palavras ser ou ter por estar quando nos referimos a nós é de extrema importância, principalmente para quem está sofrendo, pois o subconsciente ao incorporar a ideia de que este ou aquele mal não pertence a pessoa (que é o significado que está por trás de ambos os termos), dá uma boa contribuição para que ela possa sair da dificuldade. Por exemplo, quando a pessoa diz que "eu sou depressivo", ela cria a ideia de que não há como mudar algo que lhe é inerente, pois tudo aquilo que nós temos ou somos, em se tratando de algo interno, é definitivo. Já quando ela crê que está, a pessoa cria a ideia de que o desafio que ela tem que encarar é circunstancial. E sendo, pode ser alterado. Acredito que seja esta a diferença que faz com que algumas pessoas depressivas saiam do "buraco" e outras acabem por mergulhar nele definitivamente. 
Portanto, a necessidade de lançar luz sobre esta questão. Acabar com os preconceitos. Buscar ajuda para “dar nome aos bois” e nos tratarmos para que este sentimento de angústia não nos tome por inteiro. Isolar-se não é solução. Depressão tem tratamento e a cada dia são melhores os recursos e opções.
Lembrando que ninguém está sozinho e nem o único a não sentir nada em alguns momentos da vida. Não estamos sós, somos uma rede de histórias de vida que se entrelaçam.
O alerta é para que cada um de nós possamos escutar mais as pessoas, permita-se ser o “ouvido” que alguém precisa nesse momento, nem que seja por míseros cinco minutos.
Passe a escutar mais as pessoas e veja como você e o mundo ao seu redor pode mudar muito.
Que sejamos ouvintes de coração aberto e possamos ser um meio para outras pessoas escoarem seus sentimentos.
Há quem diga que o mundo é difícil demais pra ser enfrentado sozinho. Quando precisar falar e não encontrar ninguém, pode contar com meu ouvido amigo.
Texto 
Paulo Sergio Ribeiro

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