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domingo, 28 de março de 2021

DOCUMENTÁRIO NA NETFLIX DESCREVE A APAIXONANTE  HISTÓRIA DA AXÉ MÚSIC


O DOCUMENTÁRIO  Axé – Canto do povo de um lugar dimensiona corretamente a ascensão e o apogeu do gênero musical conhecido como axé music, rótulo genérico que abriga vários ritmos afro-pop-baianos-caribenhos. A queda do gênero no mercado fonográfico brasileiro recebe foco mais difuso, mas nem por isso o documentário filmado sob a direção de Chico Kertész – em cartaz na NETFLIX– deixa de ser atração sedutora para quem gosta da música exportada da Bahia para o mundo a partir de 1985 se a gravação da música Fricote (Luiz Caldas e Paulinho Camafeu, 1985) pelo cantor Luiz Caldas for tomada como o marco zero do movimento.
Assinado por Kertész com James Martins, o roteiro é bem esquemático, alinhando depoimentos de dezenas de cantores, compositores, produtores, radialistas, donos de estúdio e executivos sobre fatos expostos no filme em ordem cronológica. Sem cair no didatismo primário, o filme é bem informativo. E algumas imagens arrepiam e falam por si só, caso do número musical alocado na abertura, com Ivete Sangalo cantando no trio elétrico uma das músicas mais bonitas de toda a história da axé music, Baianidade nagô (Evany, 1991), lançada pela Banda Mel no álbum Negra e cantada pelas principais vozes do axé por sintetizar na letra toda a energia que toma conta da Bahia no verão, estação da axé music e do Carnaval, evento indissociável deste tipo de música, festiva pela própria natureza.
A pesquisa de James Martins é bem fundamentada. Vê-se imagens raras como um ensaio na quadra do Olodum em 1981. A imagem populosa do poster do filme traduz a preocupação diplomática dos produtores e do diretor do filme de enfocar todos os principais artistas do movimento, explanando a importância de cada um na história da axé music. Nesse sentido, somente a cantora Margareth Menezes não tem a história dela corretamente dimensionada.
Luiz Caldas (importante por sedimentar a presença de teclados e guitarras elétricas nos trios então dominados pela guitarra baiana), Gerônimo (cantor e compositor responsável por fundir toques do Candomblé com ritmos latinos como salsa e merengue), Olodum (grupo criador da batida do samba-reggae que ganhou o mundo ao ser gravada por astros internacionais como Michael Jackson e Paulo Simon), Chiclete com Banana (grupo de som agalopado que fez multidões ir atrás do trio elétrico Camaleão), Ara Ketu (grupo que enfatiza o toque do tamborim no baticum), Banda Mel e Banda Reflexu's (bem-sucedidas ao eletrificar com pegada pop o repertório dos blocos afros), Durval Lelys (cantor de figura carnavalizante que arrastou multidões a reboque do grupo Asa de Águia), Carlinhos Brown (criador da Timbalada e agitador cultural que agrega tribos com baticum exuberante), Daniela Mercury (cantora que ganhou o Brasil e o mundo com mix de axé, MPB e pop) e É o Tchan (grupo que coreografou a batida do samba de roda) são nomes corretamente enfocados pelo filme dentro de dimensão real. O diretor recorre a depoimentos de Caetano Veloso e Gilberto Gil, ícones da MPB que sempre simpatizaram com o axé até pela origem baiana, para referendar a importância de artistas do gênero. 
Beneficado pelo tom genérico do rótulo axé music, o filme extrapola ritmos. Terra Samba, Harmonia do Samba e Psirico também são captados pela lente de Kertész porque o chamado pagode baiano é extensão do movimento rotulado como axé music. Se o gênero perdeu força no mercado, o axé continua produzindo estrelas como Ivete Sangalo e Claudia Leitte (corretamente conceituada pelo jornalista Hagamenon Brito como uma artista com star quality apta a vender produtos). Ivete, em especial, é apontada como a maior estrela da fase pós-apogeu do axé. A trajetória da cantora ganha generoso (e justo) espaço no roteiro, que mostra a entrada e a saída da cantora da Banda Eva (o choro de Ivete diante de show superlotado feito pela Banda Eva na cidade de São Paulo, em 1997, é momento emocionante do filme) e o sucesso da carreira solo da artista.Mais para o fim, a desunião entre os artistas vira assunto recorrente no roteiro quando o filme passa a enfocar a queda do gênero. "É cada um por si e Deus pelo axé", sintetizou o cantor Netinho. A ganância das gravadoras e empresários também é apontada como fator que diluiu o mercado. Contudo, Axé – Canto do povo de um lugar deixa entrever luz no fim da Avenida Sete de Setembro ao apontar Saulo Fernandes como um artista capaz de renovar o axé e levar o gênero adiante. Nesse sentido, é significativa a alocação, no fim do filme, de dueto de Saulo com o pioneiro Luiz Caldas na música Raiz de todo bem (Saulo Fernandes, 2013). Quando rolam os créditos finais, paira a sensação de que, de qualquer lugar, pode vir a brotar a qualquer momento um novo canto do povo da Bahia que levará adiante a história do axé, tão bem contada pelas falas do ótimo filme de Chico Kértsz.

Elenco

Ivete Sangalo
Bell Marques
Beto Jamaica
Buck Jones
Caetano Veloso
Carlinhos Brown
Chiclete com Banana
Cláudia Leitte
Compadre Washington
Daniela Mercury
Durval Lélys
Gerônimo
Gilberto Gil
Luiz Caldas
Manno Góes
Márcia Freire
Márcia Short
Márcio Victor
Margareth Menezes
Marinêz
Netinho
Ninha
Ricardo Chaves
Sarajane
Saulo Fernandes
Tatau
Xanddy



Fonte: G1

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