Os Goitacás ou Goytacazes formaram a mais combativa e temida tribo indígena brasileira. De forma covarde, os brancos portugueses praticaram contra eles o que deve ser, provavelmente, a primeira guerra biológica da história, exterminando milhares.
Em 1857 quando José de Alencar escreveu e lançou sua obra O Guarani, que se tornaria um dos clássicos da literatura brasileira, o escritor utilizou as referências que tinha dos indígenas brasileiros para compor o protagonista Peri, um grande caçador, guerreiro e nadador que faz de tudo para salvar e conquistar Cecília, a filha de um nobre português. Embora o romance se chame “O Guarani”, Peri era um goitacá, membro de uma etnia que nada tem a ver com seus vizinhos indígenas. E não seria apenas aí que José de Alencar iria romancear.
Peri era um goitacá, e suas características remontam exatamente ao nome
da tribo. Goitacá (ou Goytacazes, daí o nome da cidade de Campos dos Goytacazes) pode ser compreendido como “grande nadador” ou “grande caçador”. A semelhança entre o índio do livro e os de verdade acaba aí.Representação de um índio Goitacá
Nem todos os goitacás eram tão solícitos quanto o Peri de José de Alencar. Nenhum era. Essa tribo se tornou famosa pela extrema agressividade e por refutar qualquer tentativa de contato ou comércio com os portugueses e quanto o faziam, não mantinham contato direto com os colonizadores, deixavam os produtos em um local e ficando à distância observando as trocas.
A maioria dos goitacases eram agressivos e arredios, tento merecido a alcunha de “A tribo mais selvagem do Brasil”. Eram exímios caçadores e guerreiros e podiam alcançar feitos como caçar tubarões ou cervos somente com as mãos.
Ocupando uma região entre o norte do estado do Rio de Janeiro e o sul do Espírito Santo os Goitacás eram robustos e altos, com pele muito mais clara que os outros índios, mantinham os cabelos compridos como forma de parecerem maiores aos adversários. Um dos hábitos que assustaram os colonizadores portugueses é que eles comiam carne humana em suas refeições, despelando os adversários e consumindo suas carnes ainda cruas, guardando o restante por vários dias.
Acostumados à vida na água, eram considerados seres anfíbios pelos portugueses, já que se enfiavam nas lagoas e até no mar quando perseguidos, sendo praticamente impossível alcançá-los na corrida.
O rito de passagem dos jovens para a idade adulta, segundo o Frei Vicente de Salvador, era macabro; o novo guerreiro deveria mergulhar no mar em busca de um tubarão, devendo retornar com as entranhas do bicho e com os seus dentes que seriam usados para os colares que demonstrariam a sua masculinidade.
As tropas e instalações portuguesas sofreram dezenas de ataques dos goitacás e até as outras nações indígenas se negavam a lutar contra esses índios, tamanha a sua ferocidade. Com medo de serem expulsos da região onde hoje fica a cidade de Campos de Goytacazes, os portugueses iniciaram o que deve ser provavelmente a primeira guerra biológica da historia. Juntaram roupas de pessoas mortas pela varíola e deixaram nas proximidades das aldeias dos goitacás. Quando os índios recolheram e manusearam essas peças contraíram varíola que logo espalhariam para toda a sua população. Foram exterminados 12 mil índios em baixíssimo espaço de tempo.
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