Presidente francês classificou o ataque como terrorismo; o suspeito, um homem de 21 anos, foi baleado pela polícia durante a ação e está preso.
Um ataque a faca deixou três mortos na manhã desta quinta-feira (29) na Basílica de Notre-Dame em Nice, no sul da França. Entre as vítimas está uma idosa, que foi decapitada. O suspeito, um homem de 21 anos, foi baleado pela polícia e depois preso.
O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o ataque como um "ato terrorista islâmico" e disse que os
franceses não vão abrir mão de seus valores.As vítimas do ato terrorista até agora são:
- Uma mulher de 60 anos, encontrada morta com a cabeça quase separada do corpo perto da entrada da igreja
- Um homem de 55 anos, sacristão da basílica
identificado como Vincent. Também foi quase decapitado.
- Uma mulher de 44 anos, que conseguiu fugir da basílica e se esconder um café, mas não resistiu aos ferimentos.
Brahim Aouissaoui desembarcou no porto de Lampedusa, na Itália, porta de entrada do Mediterrâneo no final de setembro. Não há registros de nenhum pedido de asilo em seu nome ao governo francês
O primeiro-ministro, Jean Castex, elevou o alerta de segurança da França ao nível máximo e disse que a resposta do governo será firme e implacável.
Onda de ataques
Poucas horas depois, a polícia francesa matou um homem que ameaçou pessoas com uma arma em Montfavet, perto da cidade de Avignon, também no sul do país.
Segundo uma rádio local, ele também gritou "Allahu Akbar", antes de ser alvejado.
Na Arábia Saudita, a televisão estatal noticiou que um suspeito foi preso na cidade de Jeddah após atacar e ferir um agente de segurança do consulado francês.
A embaixada francesa no país disse que o consulado foi alvo de um "ataque a faca contra um guarda" e informou que o funcionário foi levado ao hospital e não corre perigo de vida.
A França tem sofrido uma onda de ataques desde a morte de Samuel Paty, professor que mostrou uma charge de Maomé em uma aula sobre liberdade de expressão.
Após o incidente em Nice, a Assembleia Nacional da França interrompeu uma sessão que discutia medidas para combater a Covid-19 e fez um minuto de silêncio pelas vítimas.
A Procuradoria antiterrorismo do país abriu uma investigação sobre o incidente em Nice, que ocorreu por volta das 9 horas (6 horas no horário de Brasília).
O presidente do Parlamento europeu, David Sassoli, afirmou que "a dor é sentida por todos na Europa" e pediu unidade "contra a violência e quem incita e propaga o ódio".
Ataques na França
A basílica de Notre-Dame de Nice fica no coração da cidade da Riviera Francesa, que já tinha sido alvo de um ataque terrorista com 84 mortos em 2016.
Na ocasião, um caminhão atropelou diversas pessoas que assistiam à queima de fogos em comemoração ao 14 de Julho, o Dia da Bastilha.
O Passeio dos Ingleses, onde ocorreu o ataque de 2016, fica a cerca de 1 quilômetro da basílica.
Samuel Paty
O ataque desta quinta ocorre 13 dias após a decapitação do professor Samuel Paty, mas ainda não está claro se há conexão entre ambos.
A charge mostrada por Paty durante uma aula era da revista satírica "Charlie Hebdo", cuja sede também foi alvo de um atentado terrorista em 2015. Por questões de segurança, a redação do semanário mudou para um local não informado após o atentado.
Em setembro de 2020, um outro atentado terrorista deixou duas pessoas gravemente feridas perto do local onde funcionava a antiga redação do "Charlie Hebdo". O ataque ocorreu ao mesmo tempo em que acontecia o julgamento de 14 acusados de cumplicidade pelo atentado de 2015.
A morte de Paty causou comoção em toda a França. Milhares saíram às ruas em Paris para homenagear o professor que recebeu a maior honraria do governo francês, a medalha da "Legion d'Honneur". "Não renunciaremos às caricaturas", afirmou Macron no funeral.
"Nós continuaremos, professor. Nós defenderemos a liberdade que você ensinava tão bem e nós levaremos a laicidade. Nós não renunciaremos às caricaturas e aos desenhos", completou o presidente francês.
Reação muçulmana
A dura resposta da França ao assassinato de Paty, no entanto, levou a reações contrárias em diversos países de maioria muçulmana.
No último fim de semana, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, criticou duramente Macron e afirmou que o líder francês precisava de um exame de saúde mental. Em retaliação, a França convocou seu embaixador em Ancara.
Na segunda-feira (26), o presidente turco pediu um boicote aos produtos franceses. Macron rebateu dizendo que redobraria os esforços para impedir que as crenças islâmicas conservadoras subvertessem os valores franceses.
Na quarta-feira (28), Erdogan afirmou que os países ocidentais que atacam o islamismo querem "relançar as cruzadas". Ele disse também que defender a figura de Maomé era "uma questão de honra para nós".
O presidente do Egito, Abdel-Fattah al-Sisi, afirmou que a liberdade de expressão deveria parar de ofender mais de 1,5 bilhão de pessoas, mas ressaltou que rejeitava qualquer forma de violência ou terrorismo, de qualquer pessoa, em nome da defesa da religião, de símbolos religiosos ou de ícones.
Diversos países têm registrado protestos contra a França. Bangladesh teve três dias seguidos de manifestações. Na Somália, crianças e mulheres foram às ruas (veja no vídeo abaixo).
Em meio à escalada de tensão, o chanceler do Reino Unido, Dominic Raab, pediu aos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que se posicionem do lado dos valores da tolerância e da liberdade de expressão.
A declaração foi uma repreensão velada à Turquia, que é membro da organização. "O Reino Unido se solidariza com a França e o povo francês após o terrível assassinato de Samuel Paty", disse Raab em um comunicado. “O terrorismo nunca pode e nunca deve ser justificado".
"Os aliados da Otan e a comunidade internacional em geral devem estar lado a lado com os valores fundamentais da tolerância e da liberdade de expressão, e nunca devemos dar de presente aos terroristas a nossa divisão", afirmou Raab.
Já o Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações, o espanhol Miguel Ángel Moratinos, fez um apelo na quarta-feira (28) "respeito mútuo por todas as religiões e crenças".
Em comunicado, a agência da ONU disse que Moratinos "acompanha com grande preocupação as crescentes tensões e casos de intolerância desencadeados pela publicação de caricaturas satíricas do profeta Maomé, que os muçulmanos consideram um insulto e profundamente ofensivo".
fonte: g1
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