Temporada de gripe no hemisfério norte foi mais branda do que em anos
anteriores. Mas outras doenças podem avançar silenciosamente durante a
pandemia.
Já faz alguns meses que grande
parte do mundo adota algum tipo de distanciamento social para desacelerar o
novo coronavírus. Mas as quarentenas generalizadas parecem estar freando também
um outro inimigo, que não tem nada de novo: o vírus da gripe.
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) reportou recentemente que a temporada de gripe no hemisfério norte foi
“fortemente menor” neste ano em comparação com o ano passado. Os números de
novos casos caíram drasticamente já em abril, quando o normal é acontecer
apenas em maio. E, em números brutos, os casos de gripe diagnosticados
laboratorialmente também
foram menores. Os dados são de 71 países reportados à
plataforma FluNet, da OMS.
Os resultados são bastante
positivos, já que se estima que, todos os anos, entre 290 mil e 650 mil pessoas
morram por conta do vírus Influenza. Esse total é baseado em estimativas da
OMS, já que nem sempre os casos são comprovados por testes de laboratório.
Qualquer redução na chamada “temporada da gripe”, quando os casos disparam
durante o inverno, se traduz em menos vidas perdidas. Além disso, os casos de
gripe deste ano já estavam significativamente altos em janeiro em comparação a
anos anteriores (a temporada geralmente começa em fevereiro), o que levou a cientistas
e agentes de saúde pública a questionar se poderíamos enfrentar uma desastrosa
onda de gripe em 2020.
A OMS alertou, porém, que a
temporada de gripe no hemisfério sul ainda não começou. Portanto, não dá para
saber se o mesmo acontecerá por aqui – até porque muitos países já estão
começando a afrouxar suas medidas de contenção da Covid-19, então o efeito
sobre a gripe pode não ser tão forte como foi no norte.
A redução de casos aconteceu
poucas semanas depois da OMS declarar pandemia de Covid-19, o que aponta para a
influência das medidas de isolamento social no fenômeno – afinal, a gripe
também se transmite de pessoa para pessoa, de forma similar à do novo
coronavírus. Outros motivos podem ter influenciado, como o fato de pessoas
estarem evitando hospitais durante a pandemia e não serem diagnosticadas, mas,
segundo a OMS, as medidas contra a Covid-19 são as principais responsáveis.
“Medidas de saúde pública, como
restrições de movimento, distanciamento social e aumento da higiene pessoal
provavelmente tiveram um efeito na diminuição da gripe e na transmissão de
outros vírus respiratórios ”, disse a organização em comunicado enviado à
revista Nature.
Os dados globais concordam com
evidências locais de redução de casos de gripe durante a pandemia. No estado
americano de Nova York, conforme reportou a Nature, a temporada de gripe
terminou cinco semanas antes do normal. Em Hong Kong, o número de mortes por
gripe confirmadas laboratorialmente foi 62% menor, segundo este estudo. E em
2003, durante a epidemia de Sars (doença causada por um coronavírus semelhante
ao da Covid-19) na China, uma redução nos casos de gripe também foi observada.
É possível que outras doenças
também tenham uma redução neste ano devido a medidas contra à Covid-19, mas
ainda não há muitos dados globais sobre isso. Após anos de crescimento devido a
quedas na vacinação, os casos de rubéola, por exemplo, voltaram a cair à nível
global: foram apenas 36 durante o mês de abril. Como se trata de uma doença que
afeta principalmente crianças, o fechamento de escolas pode explicar o porquê.
Outras males, como sarampo e catapora, também entrariam nessa conta.
Mas o cenário geral não parece
tão positivo assim no longo prazo. Isso porque a OMS recomendou que todos os
países pausem temporariamente suas campanhas de vacinação em massa para evitar
aglomerações e contato social. Cerca de 80 milhões de crianças já estão sem
vacinação para diversas doenças por conta desta medida, segundo estimativas da
própria OMS e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
Isso pode levar a um ressurgimento de doenças que poderiam ser prevenidas.
Além de tudo, os países que mais
sofrem com essas enfermidades tendem a ser os países pobres, que enfrentarão
cenários ainda piores com seus frágeis sistemas de saúde sobrecarregados e com
a pausa temporária no financiamento internacional devido à Covid-19. Resumo da
ópera? Ainda é cedo para comemorar.
fonte: superinteressante
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