E essa não é uma boa notícia. Indica que precisamos de testes em massa
– justamente o que o Brasil não faz.
Que algumas pessoas desenvolvem
sintomas da Covid-19 e outras não, não é novidade. O problema é ter uma ideia
exata da proporção. Um levantamento recente feito pelo Instituto de Pesquisa
Scripps, nos EUA, sugere que essa faixa esteja entre 40% e 45% dos infectados.
Para chegar a essa conclusão, os
pesquisadores utilizaram dados de estudos que já haviam sido publicados. As
principais fontes foram os sites de publicações científicas PubMed, bioRxiv e
medRxiv. Em alguns casos, a proporção de assintomáticos era brutal.
Em alguns presídios dos EUA, por
exemplo, todos os detentos foram testados (para garantir o isolamento dos
portadores do vírus, e não transformar a penitenciária num necrotério). Numa
amostra de três mil detentos, de quatro estados americanos diferentes, 96% não
apresentaram tosse, febre, nada – natural, de certa forma, já que a média de
idade num presídio é invariavelmente baixa.
Mas, claro, estamos falando num presídio. No cruzeiro Diamond Princess,
que também funcionou como um microcosmo no qual toda uma “população” foi
testada, “só” metade dos 712 infectados não apresentou sintomas – a amostragem
ali, afinal, tinha uma média etária bem maior.
Como os números do Diamond
Princess balizaram as estatísticas iniciais da Covid, os números do novo estudo
são até tímidos. Mas, ainda assim, mostram que os assintomáticos formam um
contingente razoável dos infectados. Sim, a taxa de transmissão deles é rara,
como afirmou a OMS. Mas você, caso seja infectado, só vai saber se foi um
assintomático completo quando o vírus tiver sumido do seu corpo. Se você está
com o coronavírus hoje e só vai ter febre amanhã, você é um mero
“pré-sintomático” – ou seja: pode, sim, estar transmitindo a doença sem saber.
Mais: se você acha que pegar a
doença de forma assintomática é totalmente seguro, está enganado. Mesmo sem
tosse ou febre, algumas pessoas sem sintomas mostraram complicações
significativas nos pulmões em exames de imagem. No próprio Diamond Princess, 41
assintomáticos apresentaram algum comprometimento no órgão, ao menos na época
dos exames.
Bom, uma proporção de 40% a 45%
de assintomáticos, caso essa seja mesmo uma aproximação melhor da realidade,
ainda é algo preocupante. Mostra que a testagem em massa e o rastreamento de casos
é fundamental. Quem sabe que carrega o vírus, afinal, tende a se isolar melhor.
E, se não tender, as autoridades ao menos vão ter uma noção melhor sobre quanta
gente está infectada – e saber quais medidas tomar (lockdown, quarentena
flexibilizada, uma mera recomendação de distanciamento, ou nada, como acontece
hoje na Nova Zelândia, onde o governo considera o coronavírus erradicado e até
os eventos esportivos com público voltaram).
Não é o que acontece no Brasil,
claro. Aqui praticamente só testamos os casos graves, o que arruina qualquer
estimativa sobre o número real de infectados. Como disse Daniel Lahr, professor
do Instituto de Biociências da USP, ao G1: “O Brasil está testando brutalmente
menos do que deveria. Na melhor
das hipóteses, 20 vezes menos do que é considerado adequado”.
O ideal para a OMS é que sejam
feitos entre 10 e 30 testes para cada caso confirmado da doença, mas de acordo
com a plataforma Our World in Data, em 20 de abril, o Brasil estava fazendo
2,27 testes para cada novo infectado – essa é última data disponível lá sobre o
número de testes no País. No mesmo dia de abril, Portugal estava na faixa dos
20 testes por confirmação e a Itália marcava 15. Depois, a testagem nesses
países ainda aumentou consideravelmente. Portugal chegou a registrar em meados
de maio 80 testes por caso confirmado. Na Itália, em junho, a marca estava em
212.
fonte: superinteressante
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