O local foi palco de um evento de transmissão em massa, mas o vírus já
circulava no país bem antes do que se tem registro.
Nessa altura da pandemia, você já
deve saber de cor a história da Covid-19: o novo coronavírus surgiu em Wuhan,
na China, provavelmente em um mercado que vendia frutos do mar e animais
selvagens (às vezes, vivos) em condições de higiene questionáveis. Apesar de
essa ter sido, por muito tempo, a explicação mais plausível, ela já não parece
ser a verdadeira. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China anunciou
recentemente que
o mercado de Wuhan provavelmente não foi a origem do corona.
Segundo Gao Fu, diretor do
centro, amostras de animais vendidos na feira foram testadas e todas deram
negativo para o vírus. A suspeita é de que o local não tenha sido a origem da
doença, mas sim palco de um evento de “supertransmissão” (o termo que está
sendo usado em inglês é super-spreading): quando, em uma aglomeração, diversas
pessoas são infectadas ao mesmo tempo por uma única pessoa doente. Eventos como
esse já foram registrados em igrejas, festas, academias etc. Fu, no entanto,
não foi conclusivo em sua fala e reiterou que sua nova hipótese só pode ser
confirmada com novas pesquisas.
Essa versão condiz com outras
evidências sobre a origem do vírus. A China reportou a nova doença à
Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 31 de dezembro de 2019,
identificando-a como uma “pneumonia de causa misteriosa” que avançava em Wuhan
desde o começo de dezembro. O wet market foi considerado suspeito logo de cara,
já que a maioria dos infectados tinha relação direta com o local. No dia 1o de
janeiro de 2020, o mercado foi fechado pelas autoridades locais.
Porém, dos 41 primeiros casos
reportados, 13 não tinham nenhum tipo de relação com o mercado de rua. Além
disso, tudo indica que o vírus já estava circulando pelo país: um estudo
descobriu que a primeira pessoa a ser diagnosticada laboratorialmente
provavelmente foi infectada no dia 1o de dezembro e apresentou sintomas no dia
8. Documentos do governo chinês analisados pelo jornal South China Morning
Post, de Hong Kong, apontam para a possibilidade do “paciente zero” da pandemia
ter sido um homem de 55 anos infectado no dia 17 de novembro de 2019.
Um estudo de pesquisadores
franceses indica que o coronavírus já estava no país no dia 27 de dezembro,
quando nem se sabia da existência da doença (na época, ela ainda estava,
teoricamente, restrita à China). A equipe testou sangue colhido no ano passado
de pacientes internados na França com sintomas respiratórios, e descobriu que,
surpreendentemente, uma das amostras continha o vírus – o que indica que ele
estava se espalhando silenciosamente muito antes dos primeiros casos serem confirmados,
no fim de janeiro.
Se não foi do mercado, de onde veio o novo vírus, então?
A verdade é que ninguém sabe.
Evidências genéticas mostram que o coronavírus provavelmente saltou para os
humanos a partir de morcegos, que carregam vírus bastante similares. Deve
haver, porém, um hospedeiro intermediário na história. No caso da epidemia de
Sars, em 2002, a comunidade científica demorou 15 anos para descobrir que o
hospedeiro intermediário foi um bichinho chamado civeta. Não há porque pensar
que o trabalho de detetive será mais simples desta vez.
Teorias da conspiração afirmam
que o vírus foi criado em laboratório e liberado propositalmente. Isso não
passa de especulação das mais torpes, especialmente perigosa em uma situação em
que a desinformação pode custar vidas. Um estudo já demostrou que o genoma do
corona é extremamente semelhante ao de vírus encontrados em morcegos selvagens
– os geneticistas não encontraram evidências de manipulação.
Análises de cepas virais do
Instituto de Virologia de Wuhan também mostraram que há diferenças genéticas acentuadas
entre as amostras mantidas em laboratório e o vírus em circulação, o que
descarta um possível vazamento.
Também fica incerto como será a
relação do país com os mercados que vendem animais exóticos. Por muito tempo, o
governo chinês fez uma vista grossa conveniente a esse tipo de comércio. Mas,
com a pandemia e a pressão internacional, o país finalmente proibiu a prática.
Mesmo que o novo coronavírus não
tenha surgido no mercado de Wuhan, outros vírus já chegaram aos humanos por
esse caminho (foi o caso da Sars), e sabe-se que as condições sanitárias dos
locais favorecem o surgimento de novas doenças. Espera-se que, seja qual for a
origem do vírus, ela não impeça as autoridades chinesas de tomar medidas
necessárias para diminuir o risco de outra crise de saúde pública.
Fonte: superinteressante
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