Desde escritos de Carl Sagan até uma publicação do ano passado,
diversos cientistas demonstraram que o planeta vizinho pode ter tido condições
favoráveis à vida em suas nuvens
Não é à toa que
"marciano" é usado como sinônimo de "alienígena". Quando se
trata da busca por vida extraterrestre, Marte parece dominar o entusiasmo dos
terráqueos e a pesquisa científica.
Mas os cientistas também já
exploraram luas de Saturno, como Titã e Encélado, e e também Europa, Ganímedes
e Calisto, satélites naturais de Júpiter, entre outros lugares distantes -
sempre com a incógnita sobre a possibilidade de vida em outros planetas por
trás.
Um estudo publicado no ano
passado no periódico Astrobiology se somou a outros que, pelo menos desde os
anos 1960 sugerem que talvez haja um lugar melhor para buscar vida
extraterrestre. E trata-
se de um outro vizinho da Terra: Vênus.
Ou seja, pode ser que seja melhor
falar em "venusianos" do que "marcianos".
"A camada mais baixa de
nuvens de Vênus (entre 47,5 km a 50,5 km) é um objetivo excepcional de
exploração devido a condições favoráveis existentes à vida microbiana",
diz o artigo, cujo autor principal é Sanjay Limaye, da Universidade de Wisconsin-Madison,
nos Estados Unidos.
Embora este planeta seja hoje o
mais quente do Sistema Solar, uma publicação da Nasa, a agência espacial
americana, indicou em 2016 que Vênus pode ter tido um clima habitável e água
líquida em sua superfície por 2 bilhões de anos no início de sua existência.
Hoje, condições em Vênus são
adversas, com atmosfera densa e superfície quente, mas pode ter sido diferente
no passado
Hoje, condições em Vênus são
adversas, com atmosfera densa e superfície quente, mas pode ter sido diferente
no passado.
Pesquisadores da Nasa chegaram a
essa conclusão combinando diferentes condições no planeta vizinho, com base em
evidências existentes sobre ele. A partir disso, criaram modelos
computadorizados para testar possíveis cenários para o passado do planeta.
Um dos que se revelou promissor,
por exemplo, combinou uma atmosfera semelhante à atmosfera da Terra hoje; um
dia com duração igual à atual em Vênus; um oceano consistente com descobertas
feitas pela sonda Pioneer; dados topográficos coletados pela missão Magellan
nos anos 1990; e uma luz solar 30% mais fraca.
Mas, hoje, Vênus tem condições
muito mais adversas do que este possível passado. Sua atmosfera repleta de
dióxido de carbono é 90 vezes mais espessa que a da Terra e quase não há vapor
d´água. Na superfície, a temperatura pode chegar a 462º C.
Em um comunicado da sua
universidade, Limaye afirmou que os 2 bilhões de anos em que a vida pode ter se
desenvolvido em Vênus "é muito mais longo do que se acredita ter
acontecido em Marte".
"Vênus teve tempo de sobra
para permitir que a vida evoluísse por si mesma", apontou o pesquisador.
Na publicação, a equipe de Limaye
reconhece que a hipótese de vida microbiana em Vênus "tem sido objeto de
discussão por várias décadas e, no entanto, teve força limitada enquanto
objetivo visado na pesquisa astrobiológica".
Essa possibilidade foi levantada
por Carl Sagan em 1967. O famoso astrônomo publicou na revista Nature um texto
intitulado Life in the clouds of Venus? (Vida nas nuvens de Vênus?, em tradução
livre), coassinado pelo biofísico molecular Harold Morowitz.
A fim de demonstrar que esses
organismos poderiam existir sob leis bioquímicas próximas às da Terra, os
pesquisadores imaginaram um ser venusiano hipotético semelhante a uma bola, que
flutuaria nas camadas de nuvens.
Dois anos depois, o próprio Sagan
brincou que seu "argumento teve pelo menos uma consequência
saudável": o jornal Saturday Evening Post publicou um desenho de um jogo
de pingue-pongue em que a bola exclamava "Espere! Eu sou amigável
visitante de outro planeta!"
'Um novo capítulo empolgante na
exploração astrobiológica'
Não é só Marte: cientistas têm
indicado que, na busca por condições favoráveis à vida extraterrestre, devemos
olhar para Vênus
Não é só Marte: cientistas têm
indicado que, na busca por condições favoráveis à vida extraterrestre, devemos
olhar para Vênus
Fato é que a atmosfera ácida de
Vênus, composta principalmente de dióxido de carbono e gotículas de água
contendo ácido sulfúrico, não necessariamente é um problema para a proliferação
da vida.
"Na Terra, sabemos que a
vida pode prosperar em condições de muita acidez, podendo se alimentar de
dióxido de carbono e produzindo ácido sulfúrico", explica Rakesh Mogul,
professor de bioquímica da Universidade Politécnica do Estado da Califórnia,
nos Estados Unidos, e coautor da publicação no periódico Astrobiology.
David J. Smith, do Centro de
Pesquisa Ames da Nasa, também explica que microorganismos terrestres,
principalmente bactérias, já mostraram serem capazes de viver na atmosfera da
Terra em altitudes de até 41 quilômetros.
A equipe de Mogul acredita que um
próximo passo na exploração venusiana esteja em mais coletas de amostras nas
nuvens.
"Vênus pode ser um novo
capítulo empolgante na exploração astrobiológica", diz o cientista.
FONTE: R7
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