PARA COMEÇAR A MELHORAR COMO NAÇÃO, O BRASIL PRECISA PERDER DE MANEIRA VERGONHOSA ESTA COPA DO MUNDO

Um ‘tratamento de choque’ futebolístico na alma do brasileiro falastrão, acomodado, insensível, grosseiro, desumano e parte integrante de uma imensa manada de bois e vacas domesticados em forma de seres humanos."

- Regis Tadeu - Yahoo

Em qualquer país com um mínimo de seriedade e civilidade, seria o ápice da festa: no centro do gramado do imenso estádio, um jovem paraplégico daria o “pontapé inicial” do jogo de abertura da Copa do Mundo!

Auxiliado por uma estrutura mecânica em forma de exoesqueleto a dar sustentação ao corpo e, ao mesmo tempo, obedecer a comandos enviados pelo próprio cérebro do paciente, o rapaz iria fazer o impensável: ficar de pé e chutar uma bola! Fantástico! Coisa de ficção científica! E o mais legal é que o projeto, que começou a ser desenvolvido 2011, é capitaneado por um neurocientista brasileiro, Miguel Nicolelis. Imagine
só o impacto favorável que isto traria ao Brasil, já que a cerimônia estava sendo transmitida para todo o planeta. Bilhões de pessoas estariam presenciando o resultado de nosso investimento em saúde e tecnologia. Quantas portas internacionais não se abririam para o Brasil em todas as áreas? Perfeito, né?

Não, não foi perfeito. Faltou apenas um “pequeno detalhe”: mostrar isto na transmissão da cerimônia!!!

Juro por Deus: fiquei muito envergonhado por ser brasileiro ao assistir ao inacreditável espetáculo de descaso protagonizado pela FIFA e pela Rede Globo, as responsáveis pela captação das imagens da abertura da Copa do Mundo lá no Itaquerão – lamento, mas não vou chamar aquele estádio que mais parece uma gigantesca impressora de “Arena Corinthians” ou qualquer outro nome -, que simplesmente ignoraram de maneira quase criminosa o resultado do experimento do doutor Nicolelis. Em um único take, filmado a certa distância na lateral do campo e que durou exato UM segundo, mostrou-se a bola já em movimento, a felicidade do paciente por ter conseguido fazer o movimento e um garoto pentelho fantasiado de juiz, que tentou meter a própria cara na frente da câmera. Um fiasco poucas vezes visto na história da TV mundial!

Fiquei sabendo que a ‘bondosa’ FIFA tinha destinado inacreditáveis 29 segundos – sim, nem meio minuto seria - para mostrar algo que pode mudar a vida de milhões de pessoas em um futuro não tão distante. Inacreditável a demonstração de total falta de sensibilidade e, por que não dizer, de civilidade e humanidade. E como no Brasil “nada é tão ruim que não possa piorar”, no momento da transmissão do chute do rapaz algum diretor de imagem da Rede Globo, sem um pingo sequer de sangue correndo em suas veias, decidiu dividir a tela com a sua “câmera exclusiva” para mostrar a chegada do ônibus da seleção brasileira ao Itaquerão. Foi a estaca final no coração da transmissão de algo que julgo histórico.

Não, não vou comentar a repeito das patéticas coreografias que rolaram na abertura, mais parecidas com uma apresentação de final de ano de uma escolinha de dança de 19ª categoria. Não vou comentar a respeito da torcida onde não havia negros e que foi absurdamente mal educada com a Dilma, xingando-a de uma maneira que deixaria qualquer bebum de bar com vergonha. A vaia é válida, mas um estádio inteiro entoar “hey, Dilma, vai tomar no cu”, ainda mais vindo das bocas de gente endinheirada que pagou uma fortuna por cada ingresso, é uma demonstração não apenas de nossa péssima educação, mas também de falta de noções básicas de civilidade de uma elite econômica que não tem o que reclamar e que raramente vai aos estádios e que não sabe torcer. Outra coisa: cantar aberrações como “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amoooor!” e “leleô, leleô, lelêo, Brasil” deveria render pena de prisão perpétua. Gente que não entende absolutamente nada de futebol e que vestiu camisa amarela só para publicar suas “selfies” nas redes sociais. Gente que jamais havia estado na periferia da própria cidade onde vive.

Também não vou comentar a tremenda “amarelada” que a própria Dilma e o Joseph Blatter deram ao romper a tradição e não discursarem na cerimônia. E muito menos irei tecer minha opinião a respeito do grotesco show protagonizado por Cláudia Leitte fantasiada de “Galinha Pintadinha”, Jennifer Lopez e seu look “cubana que ficou rica em Miami dançando em puteiros” e do inclassificável Pitbull, um pseudorapper branquelo que pegaria o último lugar no concurso “Sósias albinos do Vin Diesel”.

E se você espera que eu vá comentar o jogo, pode esquecer. Não vou perder meu tempo explicando porque a seleção só ganhou com a ajuda de um assoprador de apito japonês, de um goleiro croata frangueiro que demorava dois dias para ir em uma bola e de uma seleção da Croácia que, caso jogasse o Campeonato Paulista, seria uma séria candidata ao rebaixamento.

Em um país onde um taxista honesto é motivo de matéria da poderosa Rede Globo – como vi hoje pela manhã no programa Bom Dia Brasil -, onde a falta de educação é tão absurda que, como bem disse o colega Arnaldo Branco (siga o Twitter dele aqui), “brasileiro furaria a fila do seu próprio fuzilamento”, não há outra alternativa: para começarmos a melhorar como Nação, temos que perder esta Copa do Mundo! De preferência, logo nas primeiras fases, que é para doer mais...

Só um ‘tratamento de choque’ futebolístico na alma do brasileiro falastrão, acomodado, insensível, grosseiro, desumano e parte integrante de uma imensa manada de bois e vacas domesticados em forma de seres humanos pode desencadear uma nova onda de civilidade. Porque só na conversa não vai mais...