300 POLICIAIS MILITARES DE ITAPETINGA E REGIÃO CUMPREM MANDADO JUDICIAL E REINTEGRAM FAZENDAS OCUPADAS PELO SEM TERRA.

O PODER DA PAZ: SEM VIOLÊNCIA MAJOR SERPA ACABOU A OCUPAÇÃO NAS FAZENDAS E CELEBROU A FRATERNIDADE COM OS SEM TERRA. AS FAZENDAS EQUIVALIAM À UMA ÁREA DE 4.400 CAMPOS DE FUTEBOL, OU 90 ALQUEIRES.

Texto/fotos: Tiago Bottino J. Brige

Fotos: Tiago Bottino J. Brige

Madrugada de quarta (23) sob o Comando do MAJOR VALCI SERPA,comandante da 8ª Cipm, policiais se organizam na sede do Quartel da Polícia Militar de Itapetinga, localizada na Nova. A operação: REINTEGRAÇÃO DE POSSE de DUAS FAZENDAS no Município de Maiquinique, a INGAZEIRA E A GAMELEIRA, propriedades em litigio de Herdeiros e que pertenceram ao pecuarista PEDRO CANGUSSU, falecido em 2008.

Operações envolvendo REINTEGRAÇÃO de posse são sempre estressantes para os Policiais, dessa vez todos esperavam os mesmos procedimentos e os mesmos problemas, o que os policiais e os sem terra não esperavam é que o Major Serpa iria romper com todos os paradigmas envolvendo a Polícia e a ação seria totalmente diferente de tudo que se imaginaria.

Várias companhias especializadas da Bahia foram chegando durante a madrugada para a ação de reintegração: CIPE SUDOESTE (EX CAESG), CAERC (ILHÉUS/Itabuna), CORPO DE BOMBEIROS (Vitória da Conquista), TOR (Rodoviário Especializado), ROTAM (Motos Itabuna), CETO (Pelotão especial Itabuna), vários outros policiais do 15º BATALHÃO (Itabuna), todos os Policiais do PETO (Pelotão especial de Itapetinga) e mais uma centena de Policiais de Itapetinga, sendo totalizado mais de 300 policiais Militares, cerca de 08 ônibus, e várias viaturas também foram mobilizadas.

- CHEGANDO NO ACAMPAMENTO: À ESPERA DE UMA GUERRA!

Os trabalhadores rurais sem terra, sabendo da chegada da Polícia Militar, se organizaram e fizeram barreiras com pedras na rodovia que ligava o município de Maiquinique as Fazendas Alegria... e também realizaram um grande protesto com manilhas e uma fogueira enorme com pneus na rodovia.

Á postos, a tropa de choque da CIPE/CAESG se prontificou para dirimir os protestos, o corpo de Bombeiros também foi colocado em posição, para uma possível intervenção na enorme fogueira e nos populares com jatos de água fria. De outro lado os trabalhadores rurais, armados de foices, facões, pedaços de madeira e enchadas.

O choque era iminente, e todos esperavam uma enorme guerra travada entre Policiais e Sem terra.

- O PODER DA PAZ: SEM VIOLÊNCIA, MAJOR SERPA ACABA OCUPAÇÃO EM FAZENDAS!

O Major com Willian, o Líder dos SEM TERRA

Sobe a rodovia, indo de encontro aos SEM TERRA,  VALCI SERPA, Major da Policia Militar, casado, duas filhas, maçon. Esguio, Serpa subiu a rodovia acompanhado do Capitão FERREIRA LOPES, do Sub comandante da Cipe/Caesg CAPITÃO EDMÁRIO e do Comandante da PM de COARACÍ, CAPITÃO WELLINGTON CIRILO. Dando proteção ao Comandante da PM cerca de 100 homens da tropa de Choque da CAESG, armados com as mais modernas armas da Polícia Militar e seus escudos, reluzentes, transparentes, impávidos e determinados a cumprir o seu dever.

Aparentemente a guerra estava travada e muitos começaram a correr ladeira abaixo com o temor do confronto que se apresentava ante os olhares.

O SILÊNCIO: Em encontro com os trabalhadores, que gritavam palavras de ordem do movimento, Serpa aos olhos de alguns ficou cercado, em silêncio ante os gritos entoados : “VOCÊ AI FARDADO, TAMBÉM É EXPLORADO Ou POLÍCÍA É PARA LADRÃO, QUEREMOS TERRA E PÃO!” O Major manteve-se impavido, e ao contrário do que TODOS esperavam, não gritou, não esbravejou, nem emitiu nenhuma ordem para qualquer dos que ali se encontravam. Ante o silêncio de VALCI SERPA os trabalhadores foram fazendo silêncio, e a curiosidade começou a imperar, até que um deles gritou lá do fundo: “UÉ, A POLÍCIA NÃO VAI FALAR NADA NÃO É?” Serpa, calmamente respondeu: “Estou aqui pra conversar, não estou em nome de fazendeiros, estou em nome da justiça, e à ela que estou servindo nesse momento. A Polícia que eu represento também está aqui para representar e proteger vocês e não iremos agir com violência.” Nesse momento uma das maiores articulações já realizadas pela PM no interior da Bahia foi realizada. O Major informou para os Sem Terra a ordem emitida pela Justiça e deixou claro a necessidade do cumprimento da mesma, porém propôs ao movimento retirar à todos sem violência, dando total apoio e segurança para a saída dos trabalhadores da fazenda ocupada. Após um intenso diálogo do Major SERPA, o movimento aceitou acatar a decisão do Comandante da PM e seguiu rumo aos acampamentos onde iniciaram o desmonte dos mesmos e a saída das fazendas ocupadas.

- A LIDERANÇA DOS SEM TERRA

WILLIAN era um dos líderes do movimento em Maiquinique, ele foi o interlocutor dos Sem Terra com a Polícia Militar e se surpreendeu pela atitude do Major: “É desse tipo de Polícia que precisamos, nos ouviu e nos tratou com respeito, em nenhum momento alterou a voz ou mesmo agiu com agressividade, e proibiu que qualquer policial nos desrespeitasse.”

- O ASSENTAMENTO: CRIANÇAS CHORANDO, ESCOLAS, PLANTAÇÕES E ASSEMBLÉIA DE DEUS.

A Organização no Assentamento dos SEM TERRA era muito grande. 80 familias moravam no assentamento, elas tinha uma enorme plantação de mandioca no local, de onde produziam farinha que era revendida em toda a região. No assentamento também existia a produção de queijos, criação de galinhas e pequenos animais.

Em visita ao assentamento nos sentimos como em um pequeno povoado da zona rural, apesar da iminente desocupação, um clima de paz e tranqüilidade imperava no lugar. A maior construção do lugar era uma escola de Ensino Fundamental, que abrigava cerca de 40 alunos do Ensino Fundamental inicial. Ao lado da escola uma outra construção nos chamou a atenção, ao contrário das pastorais da terra, sempre presentes nesses locais, uma igreja evangélica estava erguida: A IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS. Segundo o Pastor, nos cultos sempre cheios, o que mais se pedia a Deus era que o INCRA legalizasse o assentamento.

Foi difícil ver um pequeno grupo de 04 crianças que choravam, encolhidas em um pequeno morro. Ao ver a nossa reportagem viraram-se e nos perguntaram: “A Policia vai bater na gente Tio?" Informamos a elas que o Major não batia em ninguém e era amigo de todos. Ver o sofrimento dessas crianças me doeu profundamente e me mostrou o quanto nós, representantes do estado, estamos errados, o quanto essas crianças estavam desamparadas.

A tristeza era algo latente em todos, e apesar de haver no local alguns aproveitadores (pequenos comerciantes de Itapetinga que se misturaram no local com a ânsia de conseguir sua porção de terra) os policiais militares se emocionaram diante de tamanho  sofrimento.

- PARA ONDE VAMOS?

Essa foi a pergunta realizada por todos os acampados no local, e muitos, sem ter para onde ir, foram acampar na praça principal da cidade de Maiquinique, outros escolheram o acampamento localizado em TONHO JIRÚ, perto de Macarani, como moradia (o local será desocupado dia 14 de dezembro).

As duas fazendas ocupadas correspondem à uma área equivalente à 4.400 campos de futebol.

No manhã dessa quarta feira (23) VALCI SERPA, Major da Polícia Militar, conseguiu mostrar para mais de 2.000 mil pessoas presentes na rodovia de Maiquinique que a PAZ se conquista através de atitudes corajosas e respeitosas, como as desenvolvidas por ele naquele movimento.

Texto e fotos: Tiago Bottino J. Brige

Diretor/Editor Itapetinga Agora. Com